O professor paranaense de história Marcelo Fronza, que teve sua dissertação de mestrado compilada no livro Ensinar e aprender história: história em quadrinhos e canções (Base Editorial), afirma que um dos maiores desafios dos educadores em sala de aula é buscar uma metodologia de ensino que atraia o aluno para a aprendizagem, que se aproxime da sua linguagem, do seu universo e o cative para a absorção do conteúdo. Segundo o professor, a publicação - uma das quatro escolhidas pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola, do Ministério da Educação - é inédita no país por abordar o ensino de história a partir do conhecimento dos alunos a respeito de histórias em quadrinhos. “O livro apresenta a história em quadrinhos como fonte para que o aluno construa o conhecimento histórico com a ajuda do professor. A metodologia passa a ser interessante porque não é o professor que detém o conhecimento, mas vai auxiliar o aluno a construir o seu próprio”, analisa.

Para Fronza, esse método facilita a aprendizagem, a memorização e, por ser divertido, atrai o interesse do aluno pelo conteúdo. Mas é importante, na sua opinião, comparar a fonte histórica dos quadrinhos com outras fontes para a construção do conhecimento. Ele cita como exemplo Asterix e Cleópatra, em que os personagens falam sobre construir pirâmides em uma época histórica que não coincide com a existência de Cleópatra. “As pirâmides tinham sido construídas 2 mil anos antes e por isso é importante trazer outras fontes históricas para que o aluno perceba anacronismos”, explica. O professor destaca que o aluno acaba tendo novas visões críticas sobre os próprios quadrinhos que, como narrativa, são uma das formas mais fortes de organizar o pensamento em geral. “Daí a importância de separar o que é fonte histórica dos recursos utilizados para fazer humor”, avalia. Marcelo Fronza afirma que os quadrinhos como fonte histórica, e não só como recurso pedagógico, estão gerando novos resultados no ensino, que se refletem em melhores notas por conta da abordagem diferenciada. “O aluno está indo além da memorização de datas e períodos, está aprendendo a fazer relações de contexto, tornando-se crítico, e isso vai auxiliá-lo não apenas em sala de aula, mas no mundo afora”, conclui. As bibliotecas das escolas brasileiras recebem livros como os da Base Editoral, para auxiliar na formação dos professores.

Indígenas terão ensino adaptado

Postado por Profª Gisele Lira | 12:39 | 27 comentários »

> O Estado de São Paulo, 31/10/2010 - São Paulo SP
Os primeiros índios formados em Licenciatura Intercultural Indígena darão aula às tribos a partir de 2012
João Domingos
A partir de 2012, as escolas em aldeias das etnias apinajé, canela, carajá, javaé, krahô, tapirapé, tapuia, xambioá e xerente dos Vales do Araguaia e Tocantins (em Goiás, Maranhão, Mato Grosso e Tocantins) darão um salto de qualidade. Elas começarão a receber os primeiros professores índios graduados em Licenciatura Intercultural Indígena pela Universidade Federal de Goiás (UFG). A proposta de ensino da UFG foi construída de forma coletiva, partindo da experiência com cursos de formação de professores indígenas e com revitalização de línguas e culturas indígenas, explicaram os professores Maria do Socorro Pimentel da Silva e Leandro Mendes Rocha, idealizadores do curso. Ambos são doutores em educação indígena e têm experiência de atuação em aldeias. Maria do Socorro foi professora do ensino fundamental na Ilha do Bananal (TO) e Leandro Rocha formou professores entre os macuxi de Roraima.

Atualmente, de acordo com o governo federal, a educação indígena vive o desafio de formar pelo menos 4 mil professores até 2012. Assim como a UFG, também têm cursos exclusivos para índios universidades federais e estaduais do Acre, Amazonas, Mato Grosso, Minas, Roraima, São Paulo e Tocantins - esta última em convênio com a universidade goiana. As escolas nas aldeias têm estatuto diferente das demais. Devem ser municipais, bilíngues e com calendário diferenciado. De preferência, os professores têm de ser indígenas e da própria aldeia. Com o crescimento populacional e o aumento do interesse dos índios por frequentar as salas de aula até a fase adulta, tornou-se necessário formar também os professores para o ensino médio. Em Goiás, segundo Maria do Socorro e Rocha, apenas uma professora que atua em aldeia cursou o ensino superior, sendo que os demais têm ensino médio ou fundamental. Boa parte não tem formação para desenvolver um ensino de acordo com a especificidade de seus povos.

Na maioria das escolas indígenas brasileiras, contrariando orientação do Ministério da Educação, o ensino da 5.ª a 8.ª séries está sob responsabilidade de professores não índios. Muitos deles, se não todos, não têm formação para exercer o magistério de acordo com a realidade sociolinguística e cultural desses povos. Normalmente, nessas séries, a atuação dos indígenas tem se dado somente como professores de línguas maternas. Daí o corre-corre para a formação de professores com curso superior. Quando a primeira turma de alunos da UFG se graduar, em 2012, cada um dos cerca de 40 formandos poderá optar por se especializar em Ciência da Cultura, Ciência da Linguagem e Ciência da Natureza. Encerrada essa fase, eles deverão ir para as suas aldeias, para liderar um novo ciclo no ensino fundamental e médio das escolas indígenas. Durante os cinco anos de curso universitário, eles terão adquirido conhecimentos teórico e metodológico necessários para o desenvolvimento de pesquisas nas aldeias, levando-se em conta que devem ser tratados no mesmo nível as questões culturais relativas aos índios e não índios, lembrou Rocha.

Nas duas últimas décadas, a população indígena tem passado por uma explosão demográfica, o que aumentou muito a demanda por professores, disse Rocha. Isso, segundo ele, deveu-se principalmente à mudança na política oficial de proteção aos índios, a começar pela Constituição de 1988. Os governos seguintes garantiram terras e paz aos índios e eles puderam voltar a ter filhos sem maiores problemas. Hoje as aldeias contam com uma grande população infantil e adolescente. No curso universitário, os alunos são submetidos a debates teóricos e políticos, que buscam contribuir com a construção de propostas educacionais que respeitem e incluam projetos tocados pelas comunidades indígenas. Eles são incentivados a produzir materiais didáticos que contemplem os conhecimentos elaborados pelos indígenas e a diversidade linguística em que eles estão envolvidos. Atualmente, por exemplo, os professores da UFG e os alunos indígenas estão envolvidos na elaboração de dicionários bilíngues da língua das diversas etnias e do português. Eles também aprendem a buscar condições para o desenvolvimento de projetos de sustentabilidade econômica e de políticas de revitalização e manutenção das línguas e culturas indígenas.

Carga horária. O curso de Licenciatura Intercultural Indígena da UFG tem 3,6 mil horas. Destas, 2,1 mil são de estudos presenciais, 500 de ensino a distância em terras indígenas, 200 de pesquisas e seminários, 400 de estágio supervisionado e 400 para a prática do ensino. Durante o período em que ficam em Goiânia para as aulas presenciais, os alunos residem em alojamentos bancados pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Esse período acontece durante o recesso do calendário das escolas indígenas, normalmente entre os meses de janeiro, fevereiro, julho e agosto. Eles passam também por cursos especiais de língua portuguesa, de línguas maternas e de informática. Até o fim do ano, deve ficar pronto o prédio especialmente construído para o ensino dos indígenas. Terá a forma de uma oca e ficará perto de uma pequena mata frequentada por animais silvestres, como macacos-prego (Cebus libidinosus), no câmpus da UFG, na saída para Nova Veneza.