“A biblioteca Google cumpre um papel significativo ao escanear e divulgar as obras raras. Mas as novas tecnologias não anulam a importância e o papel das bibliotecas físicas, enquanto centros não apenas de conservação, mas também de difusão da leitura”, defende Nelson Schapochnik, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em história da leitura durante palestra no Sesc Belenzinho, em São Paulo, na última quinta (22/3). Ipad, celular, netbook, note, kindle, papel-jornal, revistas, poemas em cds e até livros. Conservar os conteúdos feitos para diferentes suportes de comunicação traz desafios inéditos a respeito da manutenção de coleções no presente e no futuro. “As bibliotecas vão se tornar cada vez mais um lugar de estudos e menos um lugar de leitura pelo mero prazer”, pondera Schapochnik. Um dos aspectos ressaltados por ele são as novas formas de exclusão social que surgem mesmo com o advento das mídias digitais. “Existem os Pontos de Cultura, que facilitam o acesso ao acervo digital. Mas quem é que lê Ulisses, do James Joyce, na tela de um computador? O romance narra 24 horas na vida de uma pessoa, mas são 800 páginas, afinal”.

Em sua palestra, Schapochnik lembrou que o homem, ao longo da sua trajetória, conviveu com diferentes jeitos de ler e atribuir sentido ao que se lia. “A leitura não é um processo natural ou universal, que ocorre do mesmo jeito, mas antes uma prática cultural e que, portanto, deve ser compreendida de acordo com as suas variações ao longo do tempo e nos diferentes lugares em que acontece”. Sobre o modo predominante como se lê hoje, o pesquisador acredita que a revolução da informática propicia uma percepção mais veloz do tempo, o que tem repercutido na qualidade da leitura. “De uma leitura sistemática passou-se a ler no intervalo entre uma coisa e outra, como quando fecha o farol, ou no ônibus do trabalho para casa”, afirmou. De acordo com ele, outros tipos de leitura continuarão a ser desenvolvidos. “Não se lê mais de cabo a rabo, mas saltando, como nas páginas que se abre na janela de um computador. Para isso já existe até um verbo específico: surfar. Continuamos atualizando e criando novas maneiras de ler”, afirma. Para Schapochnik, formatos diversos convivem com práticas de leitura concomitantes. “A história material do livro influencia o tipo de leitura que se faz. As características físicas são decisivas no modo com que se lê. Pra cada tipo de leitor existe uma edição correspondente a sua expectativa. Diz-me que edição tu lês e te direi que leitor tu és”, conclui. Flávio Aquistapace Portal Aprendiz, 26/3/2012 -

1 comentários

  1. Jakeline // 27 de abril de 2012 às 13:21  

    O mundo virtual sem dúvidas é um aliado e um facilitador. As informações fácies( muitas das vezes sem custo algum), nos ajuda bastante. No entanto, ler um livro na íntegra, manter o abito das leituras são indispensáveis, pois como o próprio autor ressalta precisa-se de uma 'leitura com qualidade'.